BLOG COLUNA BASTIDOR – Neste 24 de fevereiro se celebra a data em que o voto feminino passou a ser permitido após muitas lutas de ativistas femininas importantes do Brasil. O voto feminino foi reconhecido em 1932 no pais, mas somente em 1965 passou a ter o mesmo peso do voto masculino. Antes, o direito ao voto feminino havia sido incorporado à Constituição de 1934, mas era facultativo.
Para falar sobre a importância da data, do direito legal de escolher e ser escolhida através do voto e que desafios as mulheres ainda enfrentam atualmente na política, o PORTAL TRIBUNA NORDESTE conversou com dois nomes marcantes da política de Petrolina: a ex-vereadora Cristina Costa, PT, e a campeã de mandatos na cidade, a veterana de 7 mandatos, vereadora Maria Elena de Alencar.
Iniciamos com a ex-vereadora e primeira suplente da Federação PT, PC do B e PV na Câmara de Petrolina, Cristina Costa, também coordenadora regional do Sintepe (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco). Professora, militante dos movimentos sociais, de esquerda e sindical, integrante da Executiva do PT Petrolina, Cristina ocupou por três mandatos consecutivos uma cadeira na Câmara da terceira maior cidade em população de Pernambuco.
Sobre a importância da conquista do direito ao voto feminino, Cristina Costa assinalou que essa e outras muitas lutas fazem a história de busca por respeito, espaços e conquistas que a mulher travou e trava ainda hoje para se fazer respeitar na política e demais esferas de poder.

“Foi uma conquista muito grande, porque não se tinha direito a voz nem voto, só a obediência. Então foi muito importante, diante da mulher passar a tomar as decisões com relação a sua vida, o direito de escolher o melhor projeto que venha fortalecer e trabalhar a sua emancipação”, disse Cristina, mas ela critica que apesar de maioria, a mulher ainda é minoria no quesito representatividade política no Brasil.
“Muitas mulheres hoje ainda não sabem valorizar essa conquista. É preciso saber que nós que somos maioria como poder de voz e voto, mas infelizmente a gente não sabe concretizar esse poder na politica de botar a maioria das mulheres no Congresso Nacional, no Senado, nas câmaras de vereadores, nas prefeituras também. Então esse 24 de fevereiro é uma data pra gente refletir. Criticamos muito o machismo, mas não sabemos fazer valer a nossa força enquanto mulher. Isso é contraditório. Temos escolhido o homem para nos defender e a gente enxerga um feminicídio crescente, pois continuamos valorizando o papel masculino na representatividade política em detrimento do papel feminino, e somos maioria”, complementou Cristina Costa.
Outra importante representante da política regional, a vereadora Maria Elena de Alencar, União Brasil, que tem na bagagem 7 mandatos como vereadora em Petrolina e uma vida inteira em defesa das pautas das mulheres, de construção de politica de igualdade entre os gêneros, de combate à violência contra a mulher e contra a violência política de gênero, conceitua a conquista do direto ao voto como o começo de um tema que ainda tem muito a se debater, da igualdade feminina em todos os cantos.
Para a experiente legisladora petrolinense, a conquista do voto é um reflexo do sofrimento, da luta de Bertha Lutz, “nordestina, que foi para Paris, e voltou evoluída em 1919 e trouxe as ideias de vanguarda. Uma luta demorada, mas vitoriosa ao incluir o voto feminino na ordem do dia”.

foto divulgação
“Como que podia se negar o direito ao voto até quase a metade do século para a grande maioria da população. Fiquei feliz, porque estudando sobre esse momento importante, soube que o Brasil foi o primeiro país a promover o direito ao voto para as mulheres. Agora não é só o direito ao voto, mas aos espaços na política”, expressou a vereadora.
Maria Elena revela que para avançar nos espaços para a mulher na política e em todo o sistema ocupacional na sociedade, é preciso todo um aparato de apoio para a mulher se emancipar em todos os sentidos, principalmente se livrar da dependência financeira.
“A mulher tem que conquistar a sua independência financeira para poder demonstrar à sociedade que está por querer estar e não por depender financeiramente de alguém. Tenho muito orgulho de minha trajetória, porque nunca transgredi e iniciei logo cedo a enxergar como nós ainda somos negligenciadas”, declarou a vereadora que completa.
“Meu compromisso é não deixar a nossa voz se calar. Somos herdeiras de mulheres, companheiras que lutaram tanto para isso. Nunca é bobagem e as mulheres precisam também ter sororidade para não ser parte de quem quer calar a nossa voz”, frisou Maria Elena.
“Precisamos romper a cadeia de dominação, tirando uma a uma as pedras do nosso caminho, pra gente tecer o mundo de igualdade, de fraternidade. Essa frase resume essa luta que travo ao longo de todos esses anos na defesa de mulher”, finalizou a vereadora Maria Elena de Alencar.
ENTENDA
A conquista do voto feminino
As mulheres brasileiras conquistaram o direito de votar em 24 de fevereiro de 1932, por meio do Decreto 21.076, do então presidente Getúlio Vargas, que instituiu o Código Eleitoral. Vargas chefiava o governo provisório desde o final de 1930, quando havia liderado um movimento civil-militar que depôs o presidente Washington Luís. Uma das bandeiras desse movimento (Revolução de 30) era a reforma eleitoral. O decreto também criou a Justiça Eleitoral e instituiu o voto secreto.
Em 1933, houve eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, e as mulheres puderam votar e ser votadas pela primeira vez. A Constituinte elaborou uma nova Constituição, que entrou em vigor em 1934, consolidando o voto feminino – uma conquista do movimento feminista da época.
Histórico
A década de 1920 assistiu a diversos movimentos de contestação à ordem vigente. Em 1922, por exemplo, houve importantes acontecimentos que colocavam em xeque a República Velha, entre eles a Semana de Arte Moderna, o Movimento Tenentista e a fundação do Partido Comunista do Brasil. Nesse contexto, ganhou força o movimento feminista, tendo à frente a professora Maria Lacerda de Moura e a bióloga Bertha Lutz, que fundaram a Liga para a Emancipação Internacional da Mulher – um grupo de estudos cuja finalidade era a luta pela igualdade política das mulheres.
Posteriormente, Bertha Lutz criou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, considerada a primeira sociedade feminista brasileira. Essa organização tinha como objetivos básicos: “promover a educação da mulher e elevar o nível de instrução feminina; proteger as mães e a infância; obter garantias legislativas e práticas para o trabalho feminino; auxiliar as boas iniciativas da mulher e orientá-la na escolha de uma profissão; estimular o espírito de sociabilidade e cooperação entre as mulheres e interessá-las pelas questões sociais e de alcance público; assegurar à mulher direitos políticos e preparação para o exercício inteligente desses direitos; e estreitar os laços de amizade com os demais países americanos. (com agência câmara)
Cinara Marques, da Redação